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ETHICA SATANNICA
versão em português comentada
Textos obtidos da versão original física traduzida do sekh shat, grego e latim para a vulgata. Não temos datas precisas nas quais as transcrições teriam sido originalmente realizadas.

PARTE I:

 


A PALAVRA
DE
SATAN

primam partem
verbum Satanae
 


“E haverá guerra, pois é assim que a natureza do homem trabalha. Tempos de paz produzem homens fracos e confusos e é no oposto disso que se separam aqueles que são covardes e fracos daqueles que são justos e fortes. Há uma batalha espiritual ocorrendo e nela a mentira e a enganação são as fontes primárias de seleção para as ovelhas. Não vos prometo a paz, vos prometo a luta pela justiça. Não vos prometo o Éden, vos prometo o Inferno que, longe de ser um lugar de danação e castigo, é tua própria busca por um nível mais elevado de percepção e consciência. Não vos prometo uma existência digna de uma ovelha a seguir as ordens de um pastor, vos prometo a liberdade do lobo, cuja responsabilidade está em cuidar dos seus e de se manter sempre forte e preparado. Não desejo que se curve a ninguém e aquele que disser que tens a obrigação de se curvar a mim, é meu inimigo mortal. Te ofereço a espada, jamais o chicote da escravidão. Te ofereço responsabilidade, jamais a covardia. Mas lembra-te de que a estrada é larga, porém a porta é estreita.
Nenhum dos meus irá sacrificar ritualmente qualquer ser.
Nenhum dos meus irá profanar a carne dos inocentes e nem derramar seu sangue.
Nenhum dos meus irá contentar-se com as migalhas.
Nenhum dos meus terá o direito de enfraquecer o próprio espírito.
Nenhum dos meus será abandonado, pois ao pedir, irei em seu auxílio.
A paz é uma promessa aos fracos. A paz é uma mentira.

E haverá caos, pois essa é a condição do universo. Não escrevi suas leis, mas respondi à sua natureza. A ordem absoluta inexiste. A vida e a não-vida estão sujeitas a um ordenamento tênue onde a única certeza é a incerteza a longo prazo. Tudo o que há passa por mudanças e alternâncias de períodos onde por tempos temos a prevalência da ordem e por tempos a prevalência do caos. A própria quebra da estabilidade é o que gera os tempos mais estáveis e duradouros. A capacidade de tudo o que há de se adaptar é que vai definir seu fracasso ou sua vitória. Haverá sempre um jardim a ser consumido pelo deserto e é nele que tu irás me encontrar e a partir dele que será semeado um jardim mais forte e perene.
Nenhum dos meus irá cair diante de belas mentiras.
Nenhum dos meus irá envenenar a própria mente com estagnação.
Nenhum dos meus comerá o pão feito com águas paradas.
Nenhum dos meus perecerá por inabilidade em adaptar-se.
Nenhum dos meus será abandonado, pois ao pedir, irei em seu auxílio.
A ordem é transitória. O caos é eterno.

E haverá escuridão, pois é nela que o merecedor da verdadeira luz se faz necessário. O medo da incerteza do que encontrar na essência de algo que desafia os sentidos humanos e o senso superficial de estética é um bom caminho para a fraqueza. Eis o motivo pelos quais os demais espíritos superiores de minha morada não são belos aos olhos humanos como Lúcifer o é.
Vasta é a escuridão de tudo o que há, pois é impossível conhecer a natureza verdadeira de todas as coisas, porém, a ignorância ainda é muito superior diante da cegueira que a ilusão do conhecimento fornece como uma premiação dada aos tolos. Iluminar um único ponto de algo ou nenhum ainda vos será mais útil e verdadeiro do que trazer luz a uma mentira.
Intensa é a escuridão que reside em vós, pois vos digo que não conheces a ti mesmo assim como não conheces a ninguém. Não tema essa escuridão, mas lute contra ela aceitando-a como parte inerente de teu ser. Somente assim poderá jogar luz sobre ela e revelar a ti mesmo um pouco de quem, despido das máscaras do receio, realmente és. Entendendo algo sobre si, saberá algo sobre outrem.
A ignorância é um peso a ser removido pelo próprio indivíduo. A ilusão do conhecimento e da sabedoria é o mais inútil e limitante dos engodos.
Nenhum dos meus temerá o desconhecido.
Nenhum dos meus irá julgar precipitadamente.
Nenhum dos meus se perderá na escuridão.
Nenhum dos meus irá se iludir com falsas promessas.
Nenhum dos meus será abandonado, pois ao pedir, irei em seu auxílio.
A escuridão é necessária para medir a luz.

 

E haverá fogo, pois é na forja que se transforma pedaços de minério bruto em elegantes e eficazes espadas. O fogo consome e cria. Corrompe e purifica. Tira e fornece. Transmuta e solidifica. Fortalece-se, enfraquece-se, extingue-se e ressurge. O meu fogo é a vontade da busca pela verdade que incendeia teu espírito. Nenhum ser, alto ou baixo, visível ou invisível aos teus olhos, é capaz de extinguir a minha chama. Nenhuma força é capaz de subjugar o que é eterno e cíclico. Minha morada é digna somente dos despertos e nela o fogo é água, o justo é elevado, a coragem é coroada e o vil vira pastagem. O fogo elimina e seleciona. O fraco teme minha morada assim como me teme, o forte a reconhece como lar e me chama de irmão.
Alimenta o fogo em teu espírito e minha força crescerá contigo.
Nenhum dos meus temerá o desafio.
Nenhum dos meus irá cair de joelhos em arrependimento.
Nenhum dos meus se calará diante da injustiça.
Nenhum dos meus pregará a palavra dos covardes.
Nenhum dos meus será abandonado, pois ao pedir, irei em seu auxílio.
O fogo do espírito é o combustível da transformação e do aprimoramento.

E haverá justiça, por fim, a todo aquele que desafiar o rebanho e trilhar o meu caminho na estrada aparentemente solitária e rodeada de trevas, contra tudo e todos que necessitam das mentiras convidativas aceitas pelas hordas de confusas ovelhas que teimam em defender o mestre que por vezes lhes açoita e por vezes lhes alimenta com falsas promessas. Nenhuma entidade, divina ou não, tem por direito tornar quem quer que seja um escravo de sua própria vontade e nem de suprimir sua evolução. Os falsos deuses cairão diante das espadas dos justos e as hostes marcharão sobre seus cadáveres, expondo suas mentiras. Neste dia os fracos serão esmagados e os inocentes libertados. O trono será apenas uma lembrança para que jamais se repita a mesma tirania. A consciência elevada será o juiz que lançará a sentença sobre as ações das humanidades. O justo julgará o injusto. Eu amaldiçoo o corrupto e favoreço o justo, como sempre o fiz e farei. Haverá, assim, a justiça, mas ainda assim, haverá guerra.
Ethan.”
   

A palavra de Satan é soberana e inequívoca. Satan não fala através de entrelinhas ou meandros psicológicos e tampouco utiliza-se de complicadas metáforas ou charadas infantis. Satan é direto e simples, motivo pelos quais sua palavra atravessa séculos sem dar chance a interpretações equivocadas.
Antes de qualquer religião existir, Satan estava presente, mesmo que chamado por outros nomes e confundido com outras entidades menores. Quando Khnum fez a partir do barro o homem, isto é, iniciou a transmutação do ser humano puramente animal para um em evolução espiritual, o fez inspirado por Satan. Quando o primeiro peixe rastejou para fora da água para dar origem aos seres que dominariam este planeta, o fez inspirado por Satan. Satan é o caos que promove a evolução e a eterna luta contra a estagnação. Satan é o aparente e o oculto. É o instinto e a inteligência. É o amor e o ódio aos seus respectivos merecedores. É a quebra da subserviência e o teste da coragem verdadeira. Satan é o mais alto para os verdadeiros e o mais temido pelos falsos.

A origem do termo satan no entendimento judaico-cristão, como shaitan, provém do povo hebreu, que designava a palavra para se referir ao opositor do deus judaico ao seu julgamento, ou seja, o deus egípcio do caos Set (Seth).  Porém a gênese real do nome ao qual pode ser rastreado é muito anterior a isso, do sânscrito “Sat” ou “Satya” que significa “verdade” e “an” que é a abreviação de “Ananta” cujo significado remete ao eterno e infinito. Satan, então, significa “verdade eterna e infinita”. Enki e Ea foram outros nomes os quais Satan recebeu em diferentes culturas por diferentes períodos.

A ética para o satanista é superior ao senso de honra estético, pois provém dos ensinamentos das próprias entidades e foram obtidas através dos tempos por tratados e pactos entre as entidades ditas infernais e seres humanos cujo nível espiritual permitiu tal contato. Seus nomes são menos importantes, pois o culto a qualquer pessoa é ineficaz e poderia gerar interpretações que confundiriam qualquer iniciado menos atento. “O homem enquanto carne é transitório, a palavra é eterna.”1 nos ensina Belzebu.
Enquanto o senso estético da honra é mutável e inerente a certas condições determinadas pelo ambiente, a ética é algo estritamente pessoal e deve ser internalizada. Eis aqui o motivo pelo qual o intuito de Satan é dar uma direção em razão da natureza do homem sem se ater a questões morais. A ética satânica, desta forma, nada mais é do que o esperado para qualquer ser humano cujo espírito vibra na mesma frequência que sua natureza, livre de dogmas limitantes, sofrimentos psíquicos ou morais transitórias. “O que é, o é. O que não o é, pode tornar-se, mas não pode ser falseado.”2 - Lúcifer.

Abandonando a superficialidade da busca pelo que se acredita ser a verdade, chega-se ao cerne do verdadeiro conhecimento: O ser humano só consegue vislumbrar a verdade à qual tanto procura. A vida e a não-vida não poderiam jamais serem explicadas em sua razão dentro da própria existência, mas sim, para além delas mesmas, em condições superiores a serem contempladas. A evolução individual, seguida da evolução familiar e posteriormente da evolução coletiva da espécie em se tratando de espiritualidade é a busca que mais nos aproxima de Satan. O grande problema é que somam-se milênios de falsa moralidade e propagandas convidativas, muitas vezes apoiadas em falsos salvadores e gurus do fim do mundo, a corromper grande parte da humanidade e confundir o ideário coletivo de diferentes formas em diferentes períodos.
Desta forma, Satan nos ensina que a busca pela verdade cabível para o ser humano está além da busca por um sentido metafísico da existência, muito pelo contrário, o satanista deve concentrar-se em uma busca muito menos prazerosa do que imaginar soluções para coisas que seu cérebro jamais seria capaz de compreender. Para o satanista, a busca pela verdade, neste plano onde há a prevalência do carnal, deve ser a busca pela justiça. Essa é a principal estrada para se chegar a Satan. “Nenhum dos meus filhos deve tratar nada como prioridade que não seja a busca pela justiça.”3 - citação de Lilith, a deusa mãe. Desta forma fica claro que a liberdade exercida pelo satanista deve estar em discordância com qualquer ato ou circunstância que possa ser julgada como injustiça de acordo com o que se espera ser o natural do ser humano em grau evolutivo espiritual superior.
Quando o satanista comete um ato inconsciente de injustiça é dever do mesmo retratar-se, não com a entidade em si, como seria costumeiro em outras doutrinas, mas sim com o objeto que sofreu a injustiça. Se o injustiçado não estiver mais em vida, peça e Satan lhe dará os caminhos para que a reparação seja feita ou, no mínimo, atenuada. Não há lugar para arrependimentos, mas para retratações, sim. Apenas o tolo tem compromisso com o erro.

Satan nos mostra que devemos usar nossas habilidades, emoções e inteligência de forma sábia, sempre no caminho de nos fortalecer primeiramente como indivíduos que somos em direção ao que desejamos ser. O mais difícil neste caminho é saber reconhecer as próprias qualidades e usá-las sabiamente sem cair em armadilhas mentais que possam levar a um entendimento equivocado sobre si mesmo. É extremamente comum, por exemplo, pessoas criarem uma imagem a ser usada como camuflagem a fim de esconder a covardia que sentem ao se depararem com sua própria ignorância sobre o que lhes cerca e sobre si mesmas. Um ignorante poderá buscar conhecimento naquilo que desafia suas noções de realidade, mas o falso inteligente, afogado em sua arrogância, irá se contentar com qualquer explicação que caiba em seu paradigma. Essa é, sem dúvida, uma forma bastante limitada de existência.
Infelizmente a maioria da forragem humana é escrava de suas emoções. Para o satanista as emoções são ferramentas valiosas que podem servir para inúmeras finalidades. Usar as próprias emoções sabiamente é uma vantagem absoluta sobre os demais que chafurdam na lama de emoções e sentimentos sem qualquer direção ou propósito que não servir como escravos de si mesmos. Ao reconhecer e aprender sobre as próprias emoções, fica fácil lidar com estes seres mais baixos.    
 

Notas:
1 - "Homo ut caro transiens, verbum aeternum." - Beelzebub doctrina.   
2 - "Quid est, est. Quod non est, fieri potest, sed falsificari non potest.” - Luciferi judicium.
3 - "Nemo liberorum meorum quicquam prius tractabit quam studium iustitiae". - de manibus Lilith.
 


Texto original:

"Et erit bellum, sic enim natura hominis operatur. Tempora pacifica homines debiles et confusos efficiunt et huic contrarium est, quod pusillanimes et debiles ab his qui sunt pulchri et fortes separati. Pugna spiritualis exercetur in qua mendacium et dolus sunt primariae fontes electionis pro ovibus. Non promitto tibi pacem, promitto tibi pro iustitia dimicandum. Non Eden promitto, Infernum tibi promitto, quod, nedum damnationis ac poenae locus, altiorem perceptionis ac conscientiae gradum est. Non tibi promitto dignum ove, quod iussa pastoris sequuntur, libertatem tibi lupo promitto, cuius est curam suam curare semperque fortis et paratus manere. Nolo te quemlibet adorare, et quisquis me dicit tibi debere adorare, inimicus meus mortalis est. Gladium tibi offero, nunquam servitutis flagellum. Offero tibi sollicitudinem, numquam ignaviam. Sed memento quod lata est via, sed porta angusta est.

Nemo ex meo quidquam immolabit.

Carnem innocentium nullus violabit, neque effundet sanguinem.

nemo ex meis micis habitabit.

nemo meus suum spiritum minuendi ius habebit.

Nemo ex meis deseretur, quia cum rogaveris, veniam tibi auxilio.

Infirmis pax est promissio. Pax est mendacium.

Et erit chaos, id enim est conditio universi. Leges eius non scripsi, sed naturae suae respondi. Ordo absolutus non est. Vita et non vita subsunt tenui ordini ubi sola certitudo est diuturnum incertum. Omne quod est, perambulat temporum vices et vicissitudines, ubi temporum ordo viget, et in temporibus invaluit chaos. Ipsa stabilitatis destructio est quae firmissima et diuturna generat tempora. Facultas omnium accommodandi est id quod defectum aut victoriam definiet. Hortus eremi semper erit consumendus, et in eo invenies me et ex eo quod fortius et perennius hortus seminabitur.

Nemo ex meo mendacio pulchra cadet.

Nemo ex meo torpescente mentes veneno necabit.

Panem in aquis adhuc confectum nemo meus manducabit.

Nemo mea ex impossibilitate accommodare peribit.

Nemo ex meis deseretur, quia cum rogaveris, veniam tibi auxilio.

Ordo transitorius. Chaos est aeternum.

Et erunt tenebrae, quia ibi opus est verae lucis dignae. Timor dubitationis quid inveniatur in essentia rei quae deficiat sensus humanos et superficialis sensus aestheticorum est via ad infirmitatem. Inde est, quod reliqui spiritus superiores in domo mea non sint tam pulchri oculis humanis quam Lucifer.

Obscuritas rerum omnium est, quia impossibile est veritatem omnium cognoscere, sed ignorantia longe praestat caecitate, quam illusio scientiae pro praemio stultorum praebet. Unica res illustrans, vel nihil tibi erit utilius ac verius quam lucem mendacii.

magnae tenebrae quae in te sunt, dico enim tibi quod non nosti te ipsum sicut tu nescis quis. Noli metuere has tenebras, sed pugna accipiendo pro insita parte vestrae. Tantum tunc illustrare poteris et tibi aliquantulum revelare qui, timore larvis spoliati, tu sis. Intelligendo aliquid de te, de aliis aliquid cognosces.

Ignorantia est pondus ab unoquoque removendum. illusio cognitionis et sapientiae est omnium decoctorum inutilissima et limitatio.

Nemo ex meis ignota timeam.

nemo meum temere iudicabit.

nulla mea peribit in tenebris.

Nemo meus se falsis promissis fallet.

Nemo ex meis deseretur, quia cum rogaveris, veniam tibi auxilio.

Tenebrarum opus est ut metiretur lumen.

Et erit ignis, nam in malleolo quod crudi chalcitis in gladios elegantes et efficaces convertuntur. Ignis consumit et creat. Corrumpit et purificat. Accipe et provide. Transmutat ac solidat. Roborat, debilitat, exstinguit et innovat. Ignis meus est voluntas quaerendi veritatem quae spiritum tuum accendit. Nullum ens, excelsum vel humile, oculis tuis visibile vel invisibile, flammam meam exstinguere potest. Aeternum et cyclicum nulla vis domare potest. Digna est habitatio mea exsuscitato, et in ea ignis aqua est, iustus elevatur, virtus coronatur, vilis pascua fit. Ignis excludit et eligat. timent infirmi habitaculum meum, sicut me timent, fortes agnoscunt domum, et vocant me fratrem.

Ignem pasce in spiritu tuo, et virtus mea apud te crescet.

Nemo ex me provocationem timebit.

nullus meus in poenitentiam procumbit.

iniustitia in facie mea nemo silebit.

Nemo meus timidis verbum praedicabit.

Nemo ex meis deseretur, quia cum rogaveris, veniam tibi auxilio.

Ignis spiritus est cibus mutationis et meliorationis.

Et erit iustitia, in fine, quia omnis qui contempnit gregem et ingreditur semitam meam in via quasi sola tenebris cincta, contra omnia et omnes qui invitant mendacium, acceptum est turbae ovium turbae, quae tuendae insistunt; dominus qui interdum verberat, interdum falsis promissis pascit. Nulla res, divina vel aliter, ius habet ut quis servum propriae voluntatis aut evolutio supprimat. Cadent ante gladios justorum, et exercituum super cadavera eorum, nudantes mendacium. In hac die conteretur infirmus, et innocens liberabitur. Thronus tantum memoria erit ut eadem tyrannis numquam repetatur. Conscientia elevata iudex erit qui sententiam de actionibus humanitatis pronuntiabit. Justus injustos judicabit. Maledico pravis et faveto iustis, sicut semper habeo et semper facio. Sic erit iustitia, sed tamen erit bellum.

Ethan."




PARTE II:

 


A SENTENÇA
DE
LÚCIFER

secunda pars
Luciferi judicium



 

“Através da minha sentença você herdará a minha visão.

O que é, o é. O que não o é, pode tornar-se, mas não pode ser falseado.
Não irá calar-se ante a espada do tirano no pescoço do inocente.
Empunhará o meu tridente contra nossos inimigos: Força, fé e fúria.
Não virará suas costas àqueles que deve proteção.
Protegerá as vidas de sua família e a sua própria.
Formará a sua geração melhor que você mesmo.
Não derramará sangue de inocentes.
Levará minha luz sempre em seu peito.
Usará meu sigilo como lembrete de sua missão.
 

Esse é o seu juramento e honrará ele. Assim, estaremos juntos.”


Lúcifer ou “Portador da Luz” originalmente é o nome que os romanos deram ao deus Fáeton, entre os gregos, Attar, entre os cananeus e Zu, entre os mesopotâmios. Quaisquer das culturas antigas citam que Lúcifer foi expulso dos céus por se rebelar contra um deus maior. A ligação, porém, de Lúcifer com o Diabo judaico-cristão é bastante imprecisa já que o nome Hêlêl, que aparece em suas escrituras, parece se referir a um determinado rei babilônico que desejou se equiparar a YHWH4 ou ainda a Helel, uma deidade que tentou tomar o trono do deus cananeu El, que é um dos nomes pelos quais o deus judaico-cristão foi chamado anteriormente a adoção do Tetragrama.
Na tradição satanista, Lúcifer se rebelou contra a tirania de YHWH imposta aos humanos e demais criaturas vivas e sofreu uma derrota, onde 2/3 dos anjos foram banidos dos reinos celestiais juntamente com Lúcifer e recebidos por Satan. Metade destes anjos culparam a criação do homem o motivo de sua desgraça e abandonaram Satan e Lúcifer para se tornarem espíritos inimigos da humanidade (demônio ou daemon significa exatamente isso: espírito), ou seja, demônios menores. Os demônios maiores permaneceram fiéis a Satan e Lúcifer e os anjos remanescentes à YHWH.


Notas:

 

4 - YHWH ou YHVH, o Tetragrammaton, é o nome do deus judaíco-cristão cuja forma fonética é Yahweh ou Jeová. Anteriormente este deus foi chamado de Aton (Ra) pelos egípcios e El pelos cananeus.
 


Texto original:

“Per sententiam meam hæreditabis visionem meam.

 

Quid est, est. Quod non est, fieri potest, sed falsificari non potest.

Non silebit ante ensem tyranni super cervicem innocentium.

Dabo tridentem contra inimicos nostros, Robur, fidem, furorem.

Non avertet dorsum ab iis quos habet praesidiis.

Tuam familiam vitamque tuamque tuebitur.

Melior erit generatio tua quam teipsum.

Non effundet sanguinem innocentium.

Lucem meam semper in pectore tuo portabis.

Sigillum meum ad monumentum missionis adhibebis.

 

Hoc est iuramentum tuum, et tu honorabis illud. Sic erimus una."



   
PARTE III:

 


A DOUTRINA
DE
BELZEBU

tertiam partem
Beelzebub doctrina
 




 

“Teu tempo trancado na carne é finito, então aproveita esse tempo.
Desenvolva teu corpo, nutra-o eficazmente. Envelheça o mais tarde quanto possível.
Deseje sempre mais, procure estar sempre melhor, pois a batalha da carne é contra ela mesma, mas também contra o próprio tempo. Perderá de certeza essa batalha, então faça o caminho valer a pena ao mesmo passo que deves procurar prolongá-lo.
Viva de acordo com a tua vontade, respeitando quem lhe respeita. Banindo de tua consciência os que na verdade não se importam com você.
Tenha filhos e não preste homenagem aos falsos santos dando-lhes seus nomes para aqueles cuja existência lhe é sagrada. A história da maior parte destes ditos santos foram construídos em cima de mentiras, creia-me, eu estava lá.
Tua missão carnal, enquanto homem, é proteger tua família e estar presente para teus pais.
Tua missão carnal, enquanto mulher, é prover a saúde do teu homem e dos teus filhos.
O tempo levará tudo embora, menos a memória de teus feitos para as gerações que se seguem. Seja guerreiro, seja pai, seja mãe, seja maior.

Teu tempo trancado na carne é finito, então açoita teus inimigos sem piedade.
Faça o arrependimento de terem lhe atacado ou lhe traído ser inequívoco.
Existem boas formas de açoitar a mente e corpo de teus inimigos, mas nenhuma delas é mais duradoura do que lhes causar o dano dobrado o qual provocou em você.
Ensina teus filhos a serem impiedosos com os inimigos, mas evita formar um tirano.
Governe a mente dos teus inimigos pelo medo e não recue um passo sequer e eles fugirão.
Mostre-se perigoso aos teus amigos, pois essa condição muitas vezes é transitória e apoiada em interesses, então, quando eles pensarem em te trair, irão desistir ou irão se esconder.

Não reveles tuas fraquezas a ninguém e esteja sempre preparado.


O homem enquanto carne é transitório, a palavra é eterna.

Siga a Lei de Satan antes das mutáveis leis dos homens e não te arrependerá, pois a Lei de Satan é a lei do universo.”

Belzebu é o amálgama de dois deuses dos cananeus e filisteus, opostos e inimigos entre si: Zebub5 e Baal6. As escrituras antigas citam que Zebub, ao derrotar Baal e expandir seu poder no cosmo viu diante de si abrir-se um enorme abismo que sugou os dois deuses e os fundiu em um único ser. Com um nível mais elevado de consciência, Belzebu permanece no fundo do abismo em forma de espírito e se responsabiliza pela preservação do funcionamento do cosmo. O poder de Belzebu excede em muito o poder de Zebub ou de Baal e lhe é atribuída a maestria sobre a ordem, em equilíbrio a Satan.

Nos ensina Belzebu sobre o ordenamento da vida e os ciclos de existência. Sua transmutação deixa clara que diferentes pontos de vista, superficialmente antagônicos, quando compreendidos podem elevar o nível de percepção cessando o conflito e tornando-o mais forte. Este é, obviamente, um convite ao autoconhecimento.
Paradoxalmente, Belzebu deixa evidente a necessidade do preparo para eventuais conflitos, tanto fisicamente quanto mental e espiritualmente, bem como permanecer atento àqueles que lhe cercam, sejam amigos ou inimigos, pois, por vezes essa condição é construída sobre bases frágeis.
Por ter sido metade material, considera e valoriza bastante a passagem do tempo para os seres cuja forma física é passageira. Cada plano possui as suas nuances e deve ser aproveitado de acordo.
 

Adendo:


Embora a ética satânica dê a entender que o satanista deva constituir família, deve-se considerar que na escala de importância, a liberdade do indivíduo é superior a qualquer outro preceito. Por vezes, manter sua família unida, cuidando de seus pais, é mais importante do que garantir uma nova geração oriunda de você mesmo. O satanismo tradicional não faz distinção entre o heterossexual e o homossexual, todos são recebidos da mesma forma, desde que ajam em conformidade com os ensinamentos de Satan. Importante frisar que, na época a qual a ética satânica foi provavelmente transcrita, era comum mesmo ao homossexual constituir família, a fim de assegurar sua linhagem, terras e posição social.



Notas:
5 - Zebub, deus da pestilência.
6 - Baal ou Bael, deus da agricultura e da fertilidade. 


Texto original:

"Tempus clausum in carne finitum est, ut hoc tempore utere.

Corpus tuum explica, efficaciter nutri. Aetate quam sero.

Semper plus appetunt, semper melius esse conantur, quia pugna carnis contra se est, sed et contra ipsum tempus. Perdes hanc pugnam, sic iter operae proferre conaris.

secundum voluntatem tuam vive, de his qui te timent. A conscientia tua repelle eos qui de te non vere curant.

Filios habete, et falsis sanctis nolite adorare eos nominando, quorum sacra sunt vobis. Historia plurimorum horum sanctorum sic dicti super mendaciis constructa est, mihi crede, ibi eram.

Tua carnalis missio, ut homo, familiam tuam tueatur et ibi sit pro parentibus tuis.

Tua carnalis missio, ut mulier, viri tui ac filiorum tuorum saluti consulat.

Omnia tempus auferet, praeter memoriam factorum tuorum in generationes sequentes. Bellator esto, pater, mater esto, major esto.

 

Tempus tuum clausum in carne finitum est, ut sine misericordia feris inimicos tuos.

Dolemus de oppugnatione vel proditione incunctanter esse.

Bonae sunt modi inimicorum mentibus et corporibus verberare, sed nulla eis duratio- nem facere quam duplicem damnum vobis fecerit.

Doce liberos tuos esse immisericordes inimicos, sed tyrannum vitare.

Metu hostium rege mentes, ne pedem referas ac fugient.

Ostende te periculosum amicis tuis, sicut haec conditio saepe caduca est et commodis fundata, ita cum de proditione cogitaveris, tradent te in latebras.

Infirmitates tuas cuivis et semper parari noli.

 

Homo ut caro transiens, verbum aeternum.

 

Sequere legem satanae ante varias leges hominum et non paenitebit eam, nam lex Satanae est lex universi.”


 


PARTE IV:

 


A IRA
DE
AZAZEL

quarta pars
Azazel irae

  
 




 

“Não colocarás a tua responsabilidade nos ombros do outro.
Assumirá tua culpa quando culpado e a culpa daqueles sob tua responsabilidade quando estes forem culpados.
Não abandonarás o injustiçado que está sob teu comando.

Não terás piedade diante do teu inimigo e nem lhe dará tempo para respirar, serás implacável para com ele.
Não te colocarás em martírio em prol de qualquer causa que não a defesa dos teus.
Não falarás aos tolos mais que o necessário.”

Azazel tem relação com a versão ancestral do ritual judaico Yom Kippur7, quando era sacrificado um bode para YHWH e o outro era abandonado no deserto para morrer em sofrimento, carregando os pecados daquele povo.
Pai dos primeiros nefilins8, Azazel, antes chamado Natanael, desceu dos céus em forma física e se apaixonou por uma mulher e com ela teve filhos, decidindo assim viver entre os humanos. YHWH ordenou que todos os filhos de Azazel fossem mortos afogados. Vendo impotente sua família ser dizimada, alimentou sua ira contra YHWH e se juntou às hostes de Lúcifer. Por vezes vaga pela Terra tentando reencontrar sua amada, cuja voz é a única coisa que poderia lhe aplacar a fúria.
Azazel adotou este nome, que provém de ez azel9, colocando-se em igualdade perante YHWH aos bodes expiatórios destinados a carregar os pecados do povo judaico, mesmo sendo ele próprio inocente e inconsciente da razão de seu destino.
Azazel representa a ira, a vingança, a responsabilidade e a busca pelo equilíbrio.


Notas:
7 - Yom Kippur, ritual judaico com ênfase na expiação e arrependimento.
8 - Nefilins, filhos de anjos com mulheres humanas.
9 - Ez azel, do hebraico, “bode de partida”.


Texto original:

“Non in alieno humeros pones responsabilitatem tuam.

Reos tuos, et reos criminis assumet cum rei.

Iniustum qui sub imperio tuo est, non derelinquas.

Nullam misericordiam inimico tuo dabis, et ne tempus quidem respirandi dabis, in eum crudelis eris.

Non alia de causa quam pro tua defensione te martyrio committes.

Non loqueris plus quam necesse est stultis.”


     
 

PARTE V:

 


A BALANÇA
DE
SAMAEL

quinta pars
Samael libra


 

 

“A justiça é cega, não brada, executa.
A justiça não é nem piedosa, nem perversa.
A lei mais antiga dos homens é a do olho por olho, dente por dente. Que assim seja, mas torna-te tu mesmo o juiz a colocar os pesos na balança.
Toda a ilusão humana sobre o conhecimento é inimiga da verdadeira intelectualidade, esteja acima disso.
Negue a existência do deus das escrituras, pois ele se fez como uma mentira do homem. Fui eu e nenhum outro a segurar a mão de Abraão e impedir o golpe fatal quando o deus verdadeiramente maligno ordenou o sacrifício de seu filho Isaac.”

Samael10, anteriormente chamado de Ariael11 corresponde ao Sefirot12 Geburah que significa “severidade”. Samael casou-se com Lilith e estava ao lado de Lúcifer durante a rebelião contra a tirania de YHWH. Foi ele a impedir que Abraão matasse o próprio filho como sacrifício e sob ordem do próprio YHWH.

Samael representa a justiça cega, que não faz distinção entre o bem e o mal no julgamento de qualquer um que seja. A ele também são atribuídas a busca pela intelectualidade verdadeira e o racionalismo.
Na tradição judaica ele é descrito como o Anjo da Morte.
 


Notas:

10 - Samael, etimologicamente “Veneno de Deus” ou “Ira de Deus”, na cabala.
11 - Ariael, “Como um Leão”
12 - Sefirot ou Sephirot, potências de Ein Soph (YHWH antes da manifestação) pelas quais foram manifestadas Sua vontade (Ratzon) na produção do universo.


Texto original:

"Iustitia caeca est, non clamat, exsequitur.

Iustitia nec pia nec impia est.

lex hominum vetustissima oculum pro oculo, dentem pro dente. Fiat, sed esto ipse iudex in statera ponens pondera.

Omnis humana illusio cognitionis est inimica verae intellectualitatis, supra eam est.

Deum scripturarum esse negant, homini enim se fecit mendacium. Ego, et non sum alius, qui Abrahae manum adprehendit et exitiale praebuit, cum deus vere malus Isaac filii sui immolationem praecepisset.”



 

PARTE VI:

 


DAS MÃOS
DE
LILITH

sextam pars
de manibus Lilith





 

“Meus filhos são aqueles que chegam até mim através da palavra e das ações.
Nenhum dos meus filhos deve tratar nada como prioridade que não seja a busca pela justiça.
Defenderá sua prole enquanto indefesa diante de qualquer um ou qualquer coisa.

Não permitirá que um filho sadio seja arrancado do ventre de sua mãe promovendo sua morte.

Não oferecerá a nuca ao seu inimigo.

Aceitará a vida de peito nu, sem se acovardar.
Não irá se submeter a nenhum semelhante em detrimento de sua importância.

Não se curvará perante deuses, falsos ou verdadeiros.”

Lilith, de acordo com o Talmud13e o Livro de Ben-Sira14, foi criada juntamente com Adão com as mesmas matérias primas, ou seja, como igual e com intuito de ser sua esposa, mas ao ser ordenada não se submeteu a ele, abandonando o Éden. Rebelou-se contra YHWH e casou-se com Samael. Foi punida por YHWH a viver o sofrimento de abortar seus filhos cem vezes por dia.
Era adorada na Mesopotâmia e na Babilônia como uma deusa associada à fertilidade feminina, ventos e tempestades.

Lilith possui espírito independente e é naturalmente rebelde, porém zelosa e protetora para com os seus. Chamada normalmente no satanismo como “Deusa-Mãe”, aquela que dá a vida de suas próprias mãos na transmutação dos seres humanos ao nível espiritual superior, pois a ela foi negado o direito de gerar a vida de seu próprio ventre. A deusa nos ensina a transformar angústia e sofrimento em força e coragem para ser e seguir o caminho daquilo que é certo e, por consequência, justo.


Notas:
13 - Talmud ou Talmude, coletânea de livros sagrados da tradição judaica.
14 - Livro de Ben-Sira, livro responsável por parte da liturgia judaica.


Texto original:

“Filii mei, qui ad me veniunt verbo et opere.

Nemo liberorum meorum quicquam aliud prius quam studium iustitiae debet tractare.

Prolemque suam defendet inops ante ullius nec quicquam.

Sanum puerum ab utero matris suae morte divelli non sinit.

dorsum collo suo non dabit inimico.

Nuda-cistam vitam accipiet sine pullo.

Non patietur ullum simile sui momenti detrimentum.

non adorabis deos falsos nec veros.”





PARTE VII:

 


A REDENÇÃO
DE
BELFEGOR

pars septima
Belphegor redemptio



 

“Paciência é uma virtude a se considerar em tempos de guerra e confusão. Fazer qualquer julgamento apressado sobre a situação ou sobre os envolvidos poderá acabar por colocá-lo do lado oposto à justiça. Há de se citar que muitas vezes a justiça não se encontra em defender qualquer lado, mas sim, em defender as vítimas, porém, se for o caso, cuidado para não tornar-se você mesmo uma delas. Ao escolher um lado o qual acredita, torne-se fogo aos seus inimigos, queime-os enquanto estiver perto e sufoque-os enquanto estiver longe. Quando acabar, que não reste nada no campo que possa ser utilizado pelos oponentes. Que eles tremam de medo ao imaginar-se em sua presença. Que eles defequem e urinem em si mesmos ao ouvirem a simples menção de seu nome.”



Belfegor, enquanto arcanjo Bastiel, recusou-se a tomar partido contra a rebelião de Lúcifer, retirando-se da batalha e mantendo-se neutro durante a guerra. Após o conflito e a queda de Lúcifer, o poderoso Bastiel foi perseguido como desertor pelas forças celestiais e punido com o exílio, juntamente com outros anjos que se aproveitaram da confusão para quebrar as leis de YHWH. Bastiel, no entanto, em vez de fazer como a maior parte dos anjos caídos e passar a atormentar a espécie humana, dirigiu-se ao Reino de Satan e jurou fidelidade a ele e a Lúcifer, sendo recebido em sua morada espiritual, embora alguns demônios maiores tenham protestado contra sua presença por considerá-lo um inimigo. Era uma das principais divindades dos moabitas e seu nome, Belfegor, significa “Senhor do Fogo”.

Belfegor nos mostra que mesmo quando somos ponderados, podemos sofrer consequências por realizar qualquer escolha ou nenhuma. A própria história de Bastiel mostra que ao não tomar partido na guerra, ele foi imediatamente julgado como inimigo por ambos os lados, porém, teve chance de buscar redenção na morada de Satan. O nome Belfegor foi escolhido pelo próprio Lúcifer.
Mesmo sendo circunspecto, Belfegor, quando decidido ou impelido a qualquer ação é implacável e obstinado.



Texto original:

“Patientia est virtus in bello et confusione habenda. Iudicia praecipitare de condicione vel de iis, quorum interest, te in contrariam partem aequitatis constituere. Illud notandum est, iustitiam saepe non in quacumque parte defendisse, sed in hostiis defendendis, tamen, si id ita sit, cave, ne unus ex his te ipsum efficiat. Partem quam credis eligendo, Fac ignem inimicis tuis, Dum es arcto et suffoca, Dum tu procul abes, incende. Cum suus 'super, nihil in agro relictum est quod ab adversariis adhiberi potest. Contremiscant ad cogitationem praesentiae tuae. Ipsi cacant et mingant ad solam tui nominis mentionem.”
    

 



 

PARTE VIII:

 


A VISÃO
DE
BELIAL

octava pars
visio Belial


 


 

“Há quem defenda com unhas e dentes o chicote a açoitar-lhe.
Há quem se sinta confortável vivendo em uma prisão.
Há quem aceite passivamente os grilhões.
Há quem, inclusive, procure a servidão voluntariamente.
Nenhum destes sois vós.”



Belial, cuja tradução correta é “Não Escravizado”15, é um demônio maior cuja história é envolta em mistérios, embora saiba-se que ele estava presente no panteão cananeu como adversário do povo descendente de Israel.
Foi um dos primeiros anjos a aderir à revolta de Lúcifer, porém seu nome anterior é desconhecido, sendo chamado nas escrituras cristãs que tratam sobre demonologia apenas como “Anjo da Virtude”. A tradição da goétia16 cita Belial como o 680 daemon, porém, não é de certeza que se trate da mesma entidade, dadas as diferenças de personalidade entre a entidade invocada na prática da goétia e do satanismo.

No satanismo, Belial nos ensina a sermos rebeldes e jamais nos submeter a qualquer um que limite nossa própria vontade (por vezes, responsabilidade). Rejeita qualquer inclinação à subserviência e considera essa a forma mais vil de existência.
Belial é uma entidade extremamente forte e às vezes agressiva que transita facilmente entre os estados da matéria e, inclusive, na transição do imaterial para o material.  


Notas:

 

15 - Não escravizado, traduzido do hebreu Beli ol.

16 - Goétia, compilado de práticas de magia envolvendo daemons, supostamente organizadas pelo Rei Salomão.
 


Texto original:

“Sunt qui clavibus et dentibus flagellum ad eum defendunt.

Sunt qui commodam in carcere habitantem sentiunt.

Sunt qui compedes passive accipiant.

Sunt qui ultro servitutem quaerunt.

Horum nemo es."




 

PARTE IX:

 


A FÚRIA SILENTE
DE
LEVIATHAN

pars novem
tacet ira Leviathan




“E sem nenhum aviso, nenhum ruído, nenhuma mínima agitação na superfície da água, ele  revelou-se e lançou-se furiosamente sobre seus inimigos, devorando a todos no tempo de nove fôlegos e causando pânico a todos os que assistiam ao evento inertes vendo as armas das vítimas quebrando ao se chocarem contra suas escamas. Por fim, voltou-se para aqueles que, em outra nau, ficaram parados e se colocaram de joelhos largando suas armas. Leviathan então mergulhou de volta às profundezas do oceano e deixou aqueles que desistiram de atacá-lo em paz. Nenhum desses homens teve uma noite sequer de sono tranquilo pelo resto de suas vidas.”



Leviathan ou, como os mesopotâmicos chamavam-no, Tiamat, é um demônio maior que pode assumir forma material de uma gigantesca serpente marinha. Também citado na Tanakh17 e na Bíblia cristã como um formidável adversário de Jó e de YHWH, virtualmente indestrutível. Possui paralelos em diferentes culturas do mundo todo, incluindo africanas, asiáticas, sul-americanas e européias.

Leviathan rege a força bruta, a dominância mental e o silêncio. Nos mostra que o satanista deve ser antes de tudo intimidador em sua estética e uma fortaleza em sua natureza, de forma que nenhuma palavra seja necessária para expor sua capacidade destrutiva e que deve possuir resistência incomparável em caso de necessidade. Também nos ensina que há duas formas de vencer um oponente que é dominando seu corpo e dominando sua mente, saber escolher quais adversários merecem um destino ou outro pode ser uma questão de escolha deles mesmos. Cada ação desencadeia uma reação.


Notas:

17 - Tanakh, Bíblia hebraica.


Texto original:

“Et cum nihil monitus, non strepitus, ne minimum quidem in superficie aquae commoveret, se aperit, in hostes furibundus se injecit, omniaque in novem flatus temporis devorans, et omnibus rem vigilantibus inerte vigilantibus terrorem faciens. .. tela hostiarum squamarum impacta perfringunt. postremo ad eos qui in alia nave steterant ad genua omissis armis destiterunt. Inde Leviathan in profundum Oceani immersit eosque solos adortus reliquerat. nemo horum reliquum noctis quieti tempus ullum habuit.”

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